30 de mai. de 2008

John Fogerty - Discografia Solo.

John Fogerty - Discografia Solo.

John Fogerty

Bem, esse aí é um dos meus ídolos nesse mundinho estranho e envolvente chamado rock. Afinal, Creedence Clearwater Revival era minha banda de cabeceira até o surgimento do Led Zeppelin, única a desbancá-la desse posto. Mas, desde então, mantém-se firme e forte na vice-liderança em meu coração, a despeito do surgimento -naquele fértil período de despedida da década de 60- de inúmeras outras bandas de qualidade inconteste e de imensa influência na minha formação musical e que, até hoje, servem de prumo para qualquer um que goste de roquenrou.Neste post vou me concentrar, exclusivamente, na carreira solo de John Fogerty, compositor, cantor e multiinstrumentista outrora líder daquela magnífica banda e uma das maiores lendas do rock.
Após a tumultuada debandada do CCR, John trancou-se em estúdio e, ao invés de gravar um novo álbum recheado de canções inéditas, encarregando-se de TODOS os instrumentos -guitarras, pedal steel, dobro, violinos, banjos, mandolin, double bass, baixo, bateria, acordeon, vibrafone, etc- registrou uma série de clássicos do country e da era mesosóica do rock. Este trabalho foi lançado sob a alcunha de The Blue Ridge Rangers, tornando-se um sucesso estrondoso e, a despeito dos problemas legais com sua antiga gravadora, Fantasy, detentora dos direitos sobre seu catálogo, que o impedia de tocar em público suas canções da época do CCR, lançou, já em 75, um excelente álbum autoentitulado que, apesar das vendagens modestas, produziu ao menos um hit, 'Rockin' All Over The World', coverizado por dezenas de bandas allovertheworld e tornando-se, inclusive, um dos maiores sucessos da britânica Status Quo.



Mas os problemas legais continuavam e minavam seu ânimo. A gota d'água culmina com o aborto, sem maiores explicações por parte da Asylum Rec., do que seria seu terceiro álbum -'Hoodoo'- às vésperas de seu lançamento. Deprimido, constrói uma cabana de caça no Oregon e inicia um exílio que perduraria por 10 anos sob a alegação de que naquele momento sentia-se pouco inspirado e sem nada de relevante a dizer. Chegou a solicitar e, segundo consta, foi atendido, a destruição das masters do álbum. Lógico que alguém, espertamente, fez uma cópia e este trabalho foi lançado como bootleg.Passado este tenebroso período, muda-se para a Warner Bros. -já há algum tempo dona de 50% de seu passe- e, em 85, lança seu maior sucesso solo: 'Centerfield', um discaço do nível que somente esse artista fantástico poderia conceber.
Mas o sucesso acirrou os ânimos do proprietário da Fantasy sob a alegação de que algumas músicas faziam alusões pouco lisonjeiras à sua egrégia pessoa. Não satisfeito, ainda instaurou um processo de plágio contra John por julgar que 'The Old Man Down The Road' -maior sucesso do álbum junto com a faixa-título- utilizava-se do mesmo refrão de 'Run Through The Jungle', um dos maiores sucessos de John quando à frente do CCR. Não... vocês não estão loucos...é isso mesmo: um processo de um executivo de gravadora contra o autor de uma música que, segundo ele, é plágio de outra sua música. É bom lembrar que a Fantasy ainda era proprietária dos direitos autorais de todo seu material composto e gravado pelo CCR. São as podridões da indústria musical. Mas isso tudo só serviu pra alavancar ainda mais as vendas de 'Centerfield' e fazê-lo ser a grande sensação do Grammy daquele ano. Em contrapartida, conseguiu a liberação judicial para voltar a executar suas músicas do período CCR mas recusou-se a fazê-lo, concentrando o set list de suas apresentações somente em seu material solo.

No ano seguinte é a vez de 'Eye Of The Zombie', um belo, mas soturno, disco com letras versando sobre temas delicados como terrorismo e problemas sociais. O resultado foram boas vendas mas muito menos entusiasmadas que as de seu predecessor. Mas John estava visivelmente menos arredio e a prova disso é que já no ano seguinte voltou a incluir seu material clássico em uma apresentação em Washington, D.C. em benefício dos veteranos da guerra do Vietnam.

Mas a vida parecia não dar tréguas e mais uma tormenta se abate sobre sua cabeça: em 1990, seu irmão e companheiro de CCR, Tom Fogerty, vem a falecer de AIDS decorrente de uma transfusão de sangue. Segundo o próprio, seus piores momentos na vida foram quando Tom tomou partido da Fantasy na questão judicial envolvendo os royalties e quando da sua morte sem que nunca mais houvessem se falado.

Começa, então, um período de redescoberta para John que resolve fazer uma viagem ao Mississipi em busca de inspiração. Um dos resultados práticos desta viagem foi a criação de um fundo para a criação de bustos memoriais de grandes e quase esquecidos blueseiros como Charley Patton, Mississsipi Joe Callicott e Eugene Powell; o outro foi a constatação de que não importa quem está ganhando dinheiro com suas músicas pois, sendo ele o proprietário espiritual da obra, não fazia sentido deixá-la de lado. E, assim, decide voltar a tocar de maneira recorrente o material da época do CCR, o que não fazia desde 1972. Em 1993, a Creedence Clearwater Revival é entronizada no Rock And Roll Hall Of Fame mas, para o show comemorativo, decide por não convidar nenhum de seus antigos companheiros de banda e sobe ao palco 'apenas' com Bruce Springsteen, Robbie Robertson, Don Was e Jim Keltner a secundá-lo.

E 11 anos se passam até o lançamento de um novo álbum de inéditas, 'Blue Moon Swamp'. E valeu cada momento de espera. Um trabalho sublime que abocanhou todos os prêmios aos quais foi indicado, inclusive o Grammy de melhor álbum de rock. A vida parecia começar a sorrir para John que ainda lançou o aclamado ao vivo 'Premonition' no ano seguinte.
Desta vez, já acostumado a esses períodos de descanso do mainstream, John resolve dar uma pausa para reciclagem e dedicação à família mas nunca deixando de tocar quando lhe desse vontade.

Em 2004, retorna com 'Déja Vu (All Over Again)', um disco urgente onde já preconizava que a guerra do Iraque estava fadada a se transformar em um novo Vietnam, entre outros temas polêmicos. E isso em apenas 10 canções distribuídas por pouco mais de 34 minutos!
Na verdade, 2004 acabou por tornar-se um ano muito especial para John pois, com a venda da Fantasy Rec. para a Concord Rec., chegavam ao fim mais de 30 anos de uma pendenga judicial já que o novo proprietário generosamente restituiu-lhe todos os direitos autorais e ainda o recontratou com status de megastar. Seu primeiro lançamento em sua nova velha casa não poderia ter recebido batismo mais apropriado: 'The Long Road Home-In Concert', no formato CD/DVD, mostra um John Fogerty renovado, feliz e com uma incrível energia creedenceana nos palcos.

A prova disso é seu engajamento na campanha democrata de 2004 -a despeito de Bush filho ter declarado ser 'Centerfield' sua música predileta-, o fato de estar constantemente on tour desde então e, por isso, ter demorado -devido ao seu já legendário perfeccionismo- 3 anos gravando seu próximo álbum, 'Revival'. Mais uma vez, valeu cada segundo de espera pois lançou o que considero o segundo melhor álbum de 2007. Mais uma vez indicado para o Grammy, desta vez perdeu para o apenas correto 'Echoes, Silence, Patience & Grace' do Foo Fighters.
Espero que saboreiem esse post já que se trata de um enorme talento e uma das vozes mais emblemáticas do rock.